Essa noite enquanto dormia descobri aonde iam parar todos os meus brincos, os quais ficam sem seus respectivos pares em uma freqüência assustadoramente rápida.
Pelo que me parece, uma ganguezinha de duendes minúsculos que residem no jardim de minha própria casa se encarregavam de escondê-los em lugares inesperados. Na verdade eles não são muito bem duendes. São como uns serezinhos meio transparentes e coloridos, extraordinariamente rápidos e que não emitem som algum.
Eu descobri isso, e então me pus a catar todos os brincos que encontrava escondidos pela minha casa e os colocava dentro de um saco que estava em minha mão. Mesmo assim, eles conseguiam entrar dentro do saco e escondê-los de volta, e eu comecei a me sentir desesperada, porque não conseguia nunca ter todos os meus brincos emparelhados ao mesmo tempo, já que aqueles seres infelizes não paravam de roubá-los.
De alguma forma, eu acabei descobrindo um lugar dentro do meu quarto em que, se eu colocasse meus brincos ali depois de resgatados, os duendezinhos não conseguiriam apreendê-los novamente. Consegui pegar todos eles de volta, depois de muitas horas os procurando (pelo que parecia ser a milésima vez), e feliz da vida, sentei-me exausta, satisfeita com a vitória, meu interior rindo das caras de meus pequenos inimigos.
Eles enfurecidos rogaram algum tipo de praga para cima de mim, e alguns de meus dentes começaram a ficar moles e caírem, e então eu comecei a catá-los enquanto eles caíam no chão e uma sensação muito ruim se aflorava em mim (meus piores pesadelos sempre envolvem dentes caindo, e muito, muito desespero, normalmente dentro de um jardim de infância gigantesco e desabitado, e cheio de passagens, como em um labirinto interminável, de onde se é impossível sair. Mas essa segunda parte não era o caso.).
Mas então eu separei todos os dentes e fui correndo para o consultório da minha madrinha, antes doutora em história da arte e agora uma dentista, que colou-os todos de volta em minha boca.
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