segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Catarina - parte 2

Circulou as redondezas da escola, atravessou pela margem o grande lago de um complexo residencial, e encontrou-se mais uma vez, como em todas as quartas-feiras, diante do banco de madeira avermelhada, recentemente envernizado.

Esse era o momento preferido de Catarina. Uma vez por mês, aleatoriamente, ela sentia que precisava ali estar e se resguardar, como que para assimilar tudo que andou acontecendo em sua vida. Era sossegado, era seu. Naquele momento, e nunca em mais outro, Catarina pertencia somente a ela mesma. Só assim era capaz de ouvir seus próprios pensamentos e os de mais ninguém. Só assim ela se entendia, mesmo que apenas por meros minutos.

Saia um pouco da realidade que a sufocava, e vivia um pouco suas fantasias. Elas eram tão reconfortantes, fazia com que ela se sentisse um pouco menos sozinha no mundo. Hoje era o dia da bola oito.

Catarina vasculhou em sua mochila por um momento e de lá tirou aquela réplica em tamanho ampliado da bola número oito do jogo de sinuca. Aquela mesma que prevê seu destino quando chacoalhada.

Endireitou a bola de plástico em uma das extremidades do banco, juntou seus cadernos e bolsa por entre os braços e o peito. Catarina dirigiu-se à pitangueira, sua velha companheira, não muito distante dali. Por entre seus galhos e folhas, raios de sol de resto de tarde refulgiam uma beleza alaranjada, uma beleza conhecida. Como se ela soubesse que aquilo ia acontecer. Como se algo estivesse previsto, algo que ela previra.

Ajeitou-se de costas, agachando-se por entre as raízes expostas; raízes que transpareciam a força que sugava a vida da terra, com prazer e fúria para sustentar-se. Apoiou o corpo no tronco robusto atrás de si, enquanto encostava a mochila por entre os nós da madeira. Distraidamente, contemplou suas madeixas castanhas, prendendo-as por detrás das orelhas. Observava a formiga que escalava seu cadarço, quando se deu conta de que pensava no que Hugo havia a dito naquele mesmo dia mais cedo.

O colega nunca esteve tão distante e achacado. Olhava torto para ela junto com os outros amigos. Chocou-se uns meses atrás com suas olheiras e aparência apática e raquítica. Na época, tentou aproximar-se e arrancar-lhe o que havia de errado. Eles agiam estranho perto dela, e ela sentia-se inexplicavelmente triste, e não sentia vontade de fazer nada a respeito. Hugo sempre fora um grande amigo de infância, mas não trocavam nem uma única palavra desde então. Ela o evitava, ou pelo menos tentava. Até hoje.

A primeira pessoa se aproximou. Era um homem jovem de estatura média, um provável maratonista, pensou Catarina. Podia afirmar tal coisa por seu shortinho de ginástica ridículo e a regata verde entupida de suor que lhe descia do pescoço como um colar verde escuro. Estava bufando de uma corrida cansativa. Ou talvez fosse um homem de negócios, daqueles que acordou com uma idéia repentina de matar o trabalho e correr. Correr sem compromisso, sem direção, sem hora para acabar. Correr por correr.

O homem sentou-se no banco e não percebeu que estava sendo observado. Na maioria das vezes, não percebiam. Ele passou os dedos por entre os cabelos molhados. Catarina imaginou qual seria seu cheiro, se ele cheirava a orvalho e sabonete de chocolate, ou a perfumes caros e franceses. Ele era mais do tipo cítrico, e ela conseguia sentir seu aroma de folha de laranja. Ele poderia se chamar Marcelo, ou Antônio.

Antônio estava vermelho, mas já não transpirava como antes. Estava exausto. Talvez fosse pela noite anterior, na qual foi dominado por uma insônia delirante. Ou talvez fosse por ele simplesmente ter corrido como um desgraçado. O homem finalmente percebeu a bola a seu lado. Sua expressão não era de curiosidade. Era mais de como se ele já estivesse a esperando ali, como se a bola precisasse dele e ele soubesse disso. Alguma coisa o deixava estranhamente inquieto. Talvez fosse imaginação da garota, mas ele parecia rodeado de experiências desgastantes e perturbadoras. Ainda assim, era mais provável que estivesse delirando essas estranhezas, pois sentia-se apreensiva desde o início daquela tarde.

Catarina não conseguia tirar o que Hugo havia lhe dito da cabeça. Até mesmo Antônio, sua primeira personagem do dia, que nada tinha a ver com aquilo tudo, já estava pagando o pato. 

Sem olhar para os lados ou pensar duas vezes, Antônio tocou a superfície lisa da bola oito. Só a tocou a princípio, como alguém que encosta em um esquilo e tem medo de sua mordida inesperada, por este ser aparentemente inofensivo. Pensou o que estaria aquilo fazendo ali. Catou-a com uma das mãos e começou a tacá-la de uma mão para a outra distraidamente. Virou-a de cabeça para baixo quando percebeu a base reta e analisou a parte transparente que continha um dado de dez lados por dentro, com dez frases distintas em cada um de seus lados.

Antônio parecia indiferente. Não acreditava em coisas místicas como essa. Provavelmente tinha uma tia que fez seu mapa astral certa vez, deu-lhe um futuro tenebroso o qual o fez mudar de vida bruscamente. Tantas coisas diferentes do previsto já haviam ocorrido desde então, que Antônio debochava da bola oito. A bola, que não tinha nada a ver com isso.

Sacolejou-a com o mesmo ar indiferente da primeira vez que a havia tocado. Revirou-a e esperou a resposta. Em uma questão de segundos, notou-se o sorriso de meia boca, um sorriso ligeiro que se esvaiu tão depressa quanto surgiu. Sempre há um resquício de superstição. Essa coisa chamada destino assusta até mesmo os mais ortodoxos.

  Antônio deu conta de si, percebeu que não estava mais cansado e pôs-se a levantar. Catarina despediu-se dele com o olhar.

 

domingo, 30 de agosto de 2009

Catarina - parte 1

- ... Amanhã.

- Do que você está falando?

- Você. Talvez você vá morrer amanhã.

- Cara, qual o seu problema? Sai da minha frente.

- Não vá embora.

- O que você está querendo?

- Só estou lhe adiantando a resposta à sua pergunta.

- Pare de me amolar.

- Eu gosto de você. Não pretendo amolar-lhe.

- Pare de falar abobrinhas.

- Não quero que nossa primeira conversa depois de tanto tempo seja dessa forma.

- Isso não é uma conversa. E eu não vou morrer amanhã. Hugo, me larga.

- Tudo bem – Ele soltou o braço de Catarina, que o balançou furtivamente em uma tentativa frustrada de restabelecer sua circulação – Espera. – Ela, indiferente, se voltou para ele – Eu sei o que você faz. Mas não entendo porque essa pergunta passa pela sua cabeça. O que anda acontecendo? Me conta, como você está?

- Você está louco.

- Catarina.

- O que é.

- Você ainda é uma das coisas mais importantes que me aconteceram. Não esquece disso.

- Hugo, eu não vou morrer. O que há com você?

- Eu só espero estar errado... Se cuida. – Catarina enfurecida, desviou de um beijo de seu amigo no rosto.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

por um agente funerário exaltado

“Como alguém é capaz de viver da morte?”

O mais incrível desta pergunta, freqüente no pensamento ordinário, é sua hipocrisia. E hipocrisia é uma das poucas coisas que me assustam.

Com certeza qualquer ser pensante considerado medíocre, não excluindo tantos macacos quanto políticos, seria capaz de admitir a si próprio a ironia dessa pergunta. É uma lástima ver como que em um mundo tão evoluído certos seres consigam regredir tanto psicologicamente, a ponto de serem simplesmente tapados quando se trata desse assunto em particular. É possível que seja apenas uma questão teimosa de misticismo ao preferir acreditar na dúvida, mesmo assim é mais provável que seja desilusão, pois não há cegueira tamanha que não consiga enxergar recipiente transbordante como este. Às vezes, me excedo ao acusar hipocrisia. Estaria o homem tentando se enganar ou enganar aos outros com essa impostura? O homem desde que nasce renega a essência de sua existência por seu triste fim.

Se vivemos para a morte, por que não dela? É uma completa ironia, e no mínimo estupidez viver com a finalidade de morrer e não aceitar, de forma preconceituosa, quem vive de morte. Suponho que indiretamente, todos vivemos dela. É tão natural quanto escovar os dentes após as refeições, apaixonar-se por quem não devia, ganhar uma bicicleta na infância ou cuspir os caroços da uva. Além de estar por toda a parte, a morte é inevitável. Congratula-se o início de nossas vidas. Brinda-se o choro mórbido e sofrido de um recém-nascido predestinado a sofrer e ser martirizado pelos próprios erros, aprender com estes, ensinar algo à próxima geração, ser inutilizado pela velhice, deixando apenas seu legado e memórias que o tempo não imortaliza. A morte deveria ser aplaudida. Assim como o nascimento. Deveria ser a comemoração do fim de uma vida bem-sucedida, onde se foi aprendido e passado adiante, deveria ser visto como a primeira vez em que aquele recém-nascido não sofrerá mais, ou errará. A morte está ali, e ela é certa. Como se comemora um nascimento, sabendo-se do obscuro futuro não tão distante?

Não, a morte é uma dádiva, um refúgio. A morte é necessária. Querida por todos nós. Como alguns não enxergam isto? É tão óbvio quanto uma porta não abrir por estar trancada. A morte está lá, nos ajudando. Agraciando-nos com um pacote de férias paradisíaco com tudo incluso, sem prestações ou pretensões, nem mesmo dia de retorno para casa. Arrancando a maldição que foi a nós lançada e traçando-a em outro. A morte não hesita; tem hora marcada e é atendida prontamente. Convivendo conosco, nos esperando para oferecer-nos um final, o final mais triunfoso possível que qualquer outro que pudéssemos pedir. Ela nos faz um favor. É um dom viver dela, orgulho-me disto.

Revendo os fatos, acho que é mais uma questão de medo, não hipocrisia. Talvez egoísmo. Egoísmo de preferir dar-se vida, bebendo-a como um elixir, a entender que da vida não dá para se reaver. Um egoísmo tão exacerbado, a ponto do desespero angustiado de não aceitar que inevitavelmente, sua vida será cedida para que haja espaço para outras descendentes.

Ela teria desejado não ter provado da maçã se soubesse disso. Talvez nem Eva acreditasse em Deus. Mas, desde que a Terra não parasse de girar, tudo continuava. A vida, a morte. Faz parte. Sempre tiramos algum proveito das coisas, de qualquer forma.

Além da própria, há coisas às quais brindo na vida. Brindo à mãe e ao pai. Brindo à música. Brindo ao amor. Brindo às idéias. Brindo às mitocôndrias. Brindo à indulgência. Brindo à ignorância.

 

E brindo à morte. 

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

briga dentro do carro

-       - Você está bêbado de novo?

Ele tinha acabado de fazer uma ultrapassagem pela direita e quase atropelou um cachorro. O homem careca do carro ao lado abaixou o vidro e o chamou de filho da puta sem cerimônias. Ela olhava para ele com desprezo nos olhos.

-       - Não.

-       - Roberto, pàra o carro.

-       - Já disse que eu estou bem.

Sua voz não estava engrolada, mas ela o conhecia muito bem para ter certeza de que isso não significava nada. Os marcadores do velocímetro oscilavam num desvio inconstante entre cem e cento e vinte quilômetros por hora.

-       - Roberto, pàra esse carro. Ali no acostamento. Você vem para o carona e eu dirijo, está bem?

-       - Não!

Sua voz era paciente, mas do jeito que ela fazia isso ele se sentia pequeno. Uma criança tola e inconseqüente. Detestava quando ela falava desse jeito.

-       - Você pàra o carro, olha só, eu dou a volta, você passa para o lado do carona e nem precisa sair de dentro...

-       - Não, porra!

-       - Roberto, pàra esse carro.

Ela estava ficando vermelha. Estava furiosa. Ela sempre chorava quando ficava com raiva.

-       - Não, eu vou dirigir a porra do meu carro e você vai ficar quietinha aí!

-       - Não grita comigo! Pàra esse carro que eu quero descer, agora.

-       - NÃO VOU PARAR O CARRO!

-       - PARA ESSE CARRO QUE EU QUERO DESCER!

Ela estava chorando e seus braços tremiam. Ele estava ficando nervoso também e tentou se controlar.

-       - Lindinha, eu estou no meio da estrada, não vou deixar você aqui sozinha...

-       - EU NÃO VOU FICAR AQUI E MORRER EM UMA BATIDA ESTUPIDA POR CAUSA DO SEU ALCOOLISMO, SEU MERDA!

-       - Lívia, eu já disse...

-       - PARA ESSE CARRO LOGO, PORCARIA!

A freada foi brusca e barulhenta. O impacto deixou-os atordoados por um momento dentro do carro, parados e bufando silenciosamente. Ela tirou o cinto de segurança e abriu a porta do carro com brutalidade, deixando-o ali, decidida. Mas ele sabia que ela ia voltar.

Lá fora o cheiro de borracha queimada era nauseante. Ele esperou dentro do carro, enquanto colocava os pensamentos em ordem, antes de fazer qualquer coisa. Era difícil, mas ele não culpava as doses de whiskey. Aquilo era pouca coisa, ele sabia, já estava acostumado.

Ela já estava longe, e ele se sentiu mal, porque agora ela estava longe demais, e talvez ela não fosse voltar, como ele achava que ia acontecer. Abriu a porta afobado para correr atrás dela.

-       - Lívia, volta aqui, por favor. Não faz isso, aqui é perigoso, volta para o carro amor.

Ela era impassível. Quase como se fosse surda, não mudou sequer o ritmo ou a postura enquanto se afastava.

-       - Lívia, por favor, volta para cá. Aqui está frio, eu quase não sinto minhas pernas.

Ela girou nos calcanhares impetuosamente, irada, ainda distante.

-       - Talvez você não esteja sentindo suas pernas porque você é um bêbado, seu imbecíl!

-       - Lívia, corta essa, volta aqui!

-       - Tchau Roberto.

-       - Amor, espera, calma. Eu deixo você dirigir, está bem? Não é isso que você quer? Volta, eu sento no carona, prometo que não vou atrapalhar.

Ela parou mais uma vez, virou-se lentamente e o encarou à distância, os braços cruzados. Ela ficava linda quando estava irritada, mas ele sabia que não podia falar isso, porque ela se irritaria mais ainda, por mais que isso a fizesse cada vez mais bonita.

-       - Você vai me deixar dirigir?

-       - Vou. Juro que vou.

Ele se aproximou dela. Foi andando aos poucos, e quando chegou perto viu que as lágrimas já estavam secas por causa do vento, mas ela ainda estava vermelha e seu cabelo estava um pouco desgrenhado.

Ela fitou de volta aqueles olhos fundos com olheiras, o jeito desleixado lindo que a conquistou e a condenou. Maldito seja, maldito, o bafo forte de bebida deixou um rastro naquela névoa, ela sentia o cheiro e o gosto mesmo sem tê-lo provado naquela noite. 

-       - Me dá as chaves.

Ele obedeceu sem pestanejar. Mas ele era idiota, sabia o que podia e o que não podia fazer com a fera, mas ele não se importava e sempre fazia a mesma coisa.

-       - Sabia que você fica linda quando está estressada?

-       - E então você faz questão em me manter nesse estado para sempre?

Ela disse essa última parte já andando em direção ao carro, sem olhar para ele, bem na sua frente, enquanto ele ainda estava ali parado, só a observando. Foi tão baixo que talvez não tivesse sido falado para ser ouvido.

Ele a seguiu e sentou-se no carona, obediente. Ela colocou seu cinto e o dele, e ele sentiu-se uma criança mais uma vez, mas não ficou mais tão irritado, porque pelo menos ela estava ali ao lado dele, e ele não a perdia de vista.

Eles ficaram muito tempo em silêncio, mas os dois estavam muito acordados e talvez até mesmo estivessem pensando a mesma coisa. Devem ter passado vinte e cinco minutos, quase meia hora, os dois em silêncio.

-       - Ei... Sabia que você é a única garota que eu já deixei dirigir o meu carro?

-       - Nossa, que honra.

Ela era sarcástica e seca, e mexeu a boca o mínimo que podia para pronunciar aquelas palavras.

Ele pousou a mão esquerda na perna direita dela, mas ela ainda estava brava e mexeu a perna para que ele percebesse seu desconforto e tirasse a mão de lá. Mas ele não tirou.

Ela não conseguia entender como ele não tinha percebido que eles tinham brigado e mesmo assim ele fingia que nada tinha acontecido, e que ela queria conversar sobre isso depois quando ele não estivesse bêbado. Como que ele não entendia que aquilo ainda não tinha acabado?

Mas ele entendia e sabia que isso a irritava e que ela não sabia que ele sabia, mas sempre quando ele se fazia de desentendido as coisas acabavam mais rápido, porque ela acabava relevando, e depois eles faziam amor e tudo ficava bem de novo.

Ela não queria falar, mas ele sabia que ela estava triste e ele estava triste e ele achava que, talvez se eles conversassem agora, as coisas melhorariam um pouco. Ele não se sentia mais bêbado, ele se sentia triste, e vazio e enjoado. Ela se sentia triste e pesada, e tinha muita, muita vontade de chorar, mas ele não.

Ele tirou a mão da perna dela e ficou olhando-a por um bom tempo, e nesse momento ela percebeu que ele ia começar a falar, e então ela encheu o peito de ar e ficava repetindo dentro da cabeça sem parar “não chora, não chora, não chora...”

-       - Eu estou te perdendo, não é?

Ela ficou em silêncio e mordeu o lábio. Suas narinas inflaram e ela tentou ignorar o que ele tinha falado, mas aquilo ficou na sua cabeça, competindo com a vozinha “não chora, não chora...”.

-       - Às vezes eu sinto como se você nunca tivesse me tido.

-       - Como assim?

-       - Como se você já tivesse me perdido há tanto tempo que eu não consigo nem me lembrar de quando você me teve.

-       - Você não me ama mais?

-       - Você me faz mal.

-       - Eu lhe faço mal?

-       - Eu amo você tanto que isso me sufoca e eu fico pesada e confusa.

-       - O que eu fiz?

Ela soltou um risinho, e se risinhos pudessem ser traduzidos em palavras, esse diria “você é mesmo inacreditável...”

-       - Você não me respeita. Mas eu acho que isso é pedir demais. Você nem se respeita.

-       - Eu respeito você!

-       - Você nunca faz o que eu peço, nunca abre mão de nada para mim. Nunca admite quando eu estou certa, nem faz nada para me ajudar quando eu preciso. Não faz questão de que eu seja feliz, e sim de que eu esteja com você. Você está me arrastando, me afogando, me levando junto com você e toda essa bosta.

-       - Olha Lívia... Desculpa. Eu juro que não é por mal. Você sabe que eu não percebo quando faço essas coisas. Prometo que vou tentar mudar.

Ela deu um suspiro alto. Isso não era realmente uma palavra, mas sim uma declaração não-verbal que significava que ela pensava que ele era um idiota e que estava gastando tempo e voz à toa discutindo com ele.

-       - Está bem.

-       - Isso foi irônico...

-       - Pelo menos a bebida não tirou ainda todos os seus sentidos.

-       - Eu prometo que não vou mais beber.

-       - Tudo bem.

Mas ela sabia que ele não ia parar de beber, e ele também, e os dois sabiam que não estava nada bem.

-       - Você me perdoa? 

            Ele só falava essas coisas porque era mais fácil, e ele estava sempre de saco cheio.

-       - Não quero falar sobre isso agora.

-       - Você sabe que a gente não vai falar sobre isso de novo.

-       - Sei.

-       - Então está tudo bem entre a gente?

-       - Está.

Mas ela só falou aquilo porque achava que estava certa e que eles ainda iam discutir isso de novo e porque ela queria que ele se calasse.