quarta-feira, 8 de julho de 2009

despedida

        Helena tentava localizá-lo em meio à multidão. O porto de madeira úmida estalava sob seus pés aflitos. Não era a única que estava sendo trocada pelo mar aquela tarde. Muitos marujos se despediam de suas esposas e filhos, sem saber o que o destino lhes aguardava e se voltariam a se reencontrar ou não.  Ela olhou para cima, as nuvens cinzentas e pesadas prenunciando chuva a qualquer momento.

       Helena avistou-o. Teria que esconder-lhe o choro, engolir toda a tristeza que a pungia e ser forte. Correu pelo deque de madeira, esbarrando em quem quer que fosse que estivesse na frente, sem pedir perdão. Ele estava de costas, esperando-a.

Helena freou repentinamente. Deixou que as lágrimas rolassem por suas bochechas e logo arrependeu-se, levando as mãos ao rosto para secá-las furiosamente, deixando sua pele marcada de vermelho. Ele a repreenderia quando percebesse.

Estavam a alguns metros de distância um do outro, mas era o suficiente para que Pedro sentisse sua presença. Virou-se muito devagar para a sua direção, girando nos tornozelos. O tumulto à sua volta, a gritaria de crianças desamparadas, o choro silencioso que precede a espera tortuosa de noivas e esposas, nada disso importava. Tudo à sua volta tornou-se muito distante e vazio quando os olhos de Pedro encontraram os de Helena.

Ele encarou-a inexpressivo por uns longos segundos, porém não tão longos quanto Pedro desejava. Não tão longos o suficiente para que aqueles olhos mergulhassem dentro dos seus e por lá permanecessem por toda uma eternidade, para que pudesse tê-los consigo para todo o sempre.

Helena avançou alguns passos e Pedro permaneceu inerte e sem reação. Ela tocou-lhe as mãos com os dedos e Pedro fechou os olhos. Ele sentiu sua respiração afobada roçando seu pescoço e assim permaneceram por um tempo.

Uma chuva fina começou a cair. Cortavam a face de Pedro como alfinetadas impiedosas, e ao escorrerem, as sentia como sangue. A barra do vestido de Helena estava suja de terra, e agora tornava-se enlameada. Mas ela não se importava. Nada mais importava.

- Não vá, Pedro. Não vá. – Saiu-lhe da boca como um suplício. Ele abriu os olhos percebendo que a tripulação já havia embarcado. Crianças e mulheres se debruçavam chorosas pelo anteparo de madeira, que se interpunha entre elas e seus homens do mar. Pedro tocou o rosto róseo e delicado de Helena com as mãos brutas e calejadas de marujo. Beijou-lhe a testa e partiu sem olhar para trás.





(um pouquinho de sentimentalismo barato)

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