Só para relembrar, quando tudo isso acabar, que tive o privilégio de presenciar uma cena, cena essa a qual ocasionalmente presenciava às sextas-feiras. Essa insistência só significava uma coisa: que deveria ser tomada nota. Na verdade, acho que tive medo de nunca mais poder vê-la novamente.
Eram 16:37 e o vento lambia meus cabelos, não necessariamente para o lado que eu desejava. Descia a rua México paulatinamente, e de lá de cima ninguém me observava ou por mim era observado. Meu irmão marchava atrás de mim, sem balançar os braços ou emitir algum barulho. O sol caia em cascatas, limpando a rua e arredores, dando vida às milhares de cores que se sobrepunham, enquanto, ao mesmo tempo, me cegava. Gravetos pousados no chão abriam caminhos por entre folhas caídas e pouco pigmentadas, algumas até mesmo secas. Algumas destas algumas dançavam. É incrível como a imagem pode se adaptar com o som que está sendo ouvido. Não é nem preciso muita imaginação.
Árvores grandes, de raízes fortes, se estendiam com harmonia. Suas copas formavam um canal, o qual vez ou outra escondia o sol e o fazia chegar pontilhado aos meus olhos, de acordo com o meu movimento. Não sugavam energia da terra com suas raízes, mas a compartilhavam com ela. A mais óbvia e, ao mesmo tempo oculta sensação de equilíbrio. Era como se aquilo tudo fizesse sentido, como se tudo estivesse tão certo.
Casas escondiam-se tímidas por entre as folhagens. Não conseguia supor que pessoas morariam naquelas casas. Se existissem, passariam anódinas e medíocres; simplesmente se tornariam parte da minha paisagem.
Havia um momento ainda em que não se podia ver o que havia lá embaixo, como uma montanha- russa. Fechei os olhos por uns segundos, e tentei adivinhar.
Sorri. No fim da rua inclinada, começa a estrada. O asfalto iluminado, mas sem ondas de calor na superfície. A temperatura era bem agradável, estávamos no fim do inverno. Desci uns dez metros correndo ou girando. Meu irmão me repreendeu. Quem se importava? O mundo sorria para mim.
Nesse instante, eu pensava, ao som de Scatman, do que não saberiam as crianças. Era como se eu tivesse a sensação de estar diante de algo fabuloso e enigmático pela primeira vez.
E esse momento eu não troco por nada.
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