terça-feira, 7 de julho de 2009

olho ardido e halls de menta

      Hoje passei por um drama. Foi tenso. 99% coisa da minha cabeça, é claro. Eu cheguei desesperada e com um olho meio capenga no hospital universitário, depois de perambular que nem uma barata tonta pelo primeiro andar e descobrir que o ambulatório ficava só no segundo. Deixe-me explicar melhor: eu uso lentes de contato desde os nove anos de idade e aquilo nunca tinha acontecido comigo antes. E olha que eu já judiei com meu olho de milhares de maneiras improváveis, como puxando sem querer a membrana conjuntiva, pensando que fosse a lente e ficando com a visão turva e retorcida, quase ganhando uma cegueira de brinde com isso. Como é de se esperar, por essas e outras eu já era um pouco traumatizada.

         O que aconteceu foi que, enquanto eu estava no ônibus a caminho da faculdade, a lente do olho esquerdo saiu da córnea e se embolou em algum canto do olho que eu não conseguia tirar. Até aí normal, tudo bem. Eu tenho que admitir que nunca fui muito responsável com essa coisa de higiene do olho, ficar limpando com sorinho, levar estojinho com colírio, espelhinho, blá blá blá, nhé nhé nhé. Mas mesmo assim, isso acontece o tempo todo, já tô acostumada. Quem usa lente sabe que isso é bem comum. Só que ainda faltava uma hora pra eu chegar, e eu nunca tinha ficado tanto tempo com uma coisa embolada pinicando meu olho. Aquilo tava começando a me deixar agoniada.

         Cheguei na faculdade atrasada para a primeira aula e com o olho ainda fechado. Fui até o banheiro (que estava interditado) e empurrando os carrinhos de limpeza para o lado me deparei com um olho inchado e vermelho me encarando pelo espelho. Comecei a buscar furiosamente por uma lente perdida. Não a encontrei. E isso nunca tinha visto antes.

         Corri desamparada até o hospital, não muito longe do meu prédio. E como já disse, cheguei desesperada e com um olho capenga no ambulatório de oftalmologia, no final do corredor do segundo andar. Fui até a atendente e contei rapidamente meu problema. Olhei meu relógio e já tinha perdido uns quinze minutos de aula. Ela anotou tudo que eu disse em uma folha de papel rasgada e falou que ainda ia demorar um pouquinho pra eu ser atendida por um residente. Tinham quarenta pessoas na minha frente.

         Eu busquei um lugar para me sentar no meio de toda aquela gente. Acabei encontrando um banco de madeira com um lugar vago bem no meio. Aquilo ali fedia a mijo.

         Fiquei uma meia hora sentada ali. Uma velhinha de rosa sentou do meu lado. Eu consultava o relógio freneticamente. Não tinha conseguido falar com meus pais. Liguei umas três vezes para cada um. Fazia meditações silenciosas, mas meu desespero parecia aumentar exponencialmente a cada minuto que se passava. Cinco pessoas tinham entrado no consultório. Faltavam trinta e cinco, e eu não enxergava nada, meu olho ardia, e eu já tinha perdido minha aula há muito tempo. Comecei a batutar hipóteses ridículas de que a lente tinha dado uma volta de 180º pelo meu olho, penetrando de alguma forma pelo músculo e indo parar lá do outro lado, ou que ela havia grudado e secado irrefutavelmente na pálpebra superior ou em algum outro lugar que eu não pudesse ver.

Eu estava sozinha e começava a ficar com fome. Meu olho esquerdo já lacrimejava automaticamente por causa da dor e da irritação, mas eu começava a sentir vontade de chorar. Liguei mais uma vez para a minha mãe. Ela não atendeu.

Comecei a bater meus pés, nervosa. Mordi o lábio. Sempre fazia isso quando sabia que não ia conseguir segurar mais. Cinqüenta minutos. Já sentia meus olhos borbulhando de água. Se eu piscasse, as lágrimas iam cair, e eu ia desembestar a chorar descontroladamente.

         Estava chorando silenciosa e discretamente, secando os olhos com a beirada do casaco, quando percebi que a velhinha ao meu lado estava com a bolsa aberta e caçava alguma coisa ali. Ela ficou um tempão catucando lá dentro, remexendo. Sua mão tremia bastante e isso dificultava sua busca, mas isso não parecia deixá-la impaciente.

         Finalmente ela ergueu a mão, puxando com ela um pacote aberto de halls de menta. Ela se virou para mim com um sorriso doce, os olhos embebidos em compaixão, estendendo a mão trêmula para perto do meu rosto:

-       Quer uma balinha?

Achei aquilo demais. Tive vontade de apertar sua bochecha, colocar ela no bolso e levar para casa.

 

2 comentários:

Jaíne disse...

Típico da Lu esse final xD
Melhorou meu bem?
No fim das contas, a lente deu mesmo 1 giro de 180º? Qdo a Dani me contou por meio de mexer os lábios silenciosamente no meio da aula de genética, eu qse tive 1 treco d nervosismo. Imaginei o mesmo: q a lente tava dento do seu crânio & q tinha q tirar seu olho p/ tirar a lente (coisas d qm nunk usou lente). Mas tá td bem né?! Seu olho tá no lugar? =*
PS: Blog cômico!

L disse...

não, isso na verdade é impossível de acontecer... mas o médico falou que às vezes tem casos que as pessoas precisam fazer micro-cirurgia pra tirar =S